Apesar de muitas vezes confundidos entre si, os termos resistência e resiliência possuem características diferentes. O primeiro diz respeito às pessoas com capacidade de resistir a situações de pressão. Já o termo resiliência trata da capacidade do ser humano em, além de "segurar as pontas", aprender com os desafios, adaptar-se, e usar da criatividade para encontrar soluções alternativas para superar adversidades. Porém, ao que parece, a comunidade do bairro Nova Santa Marta vem quebrando essas regras conceituais e demonstrando diariamente que, em alguns casos, os dois podem mesmo se confundir e se completar.
Mais de 23 anos após sua ocupação, as sete vilas que formam o bairro contam com três escolas. Em conversa com moradores e líderes comunitários, uma questão é ressaltada incessantemente: a falta de investimentos em projetos sociais voltados, especialmente, às crianças. Por isso, é nas instituições de ensino que pais, alunos e educadores depositam grande parte de suas expectativas de uma vida melhor para a comunidade.
Para a cientista social Suelen Aires Gonçalves, que é pesquisadora sobre violência urbana e segurança pública e estuda a criminalidade na Nova Santa Marta, bairro onde mora há mais de 20 anos, as escolas do bairro vão além do seu papel institucional e desempenham uma ação fundamental dentro da comunidade. A especialista conta que sua geração sofreu com a falta de acesso à educação. Mas, hoje, as crianças contam com esse apoio e os reflexos são muitos, desde noções de cidadania à resolução de conflitos, o que reflete diretamente na quebra do paradigma de uma cultura da violência, por exemplo.
- A Escola Marista, por exemplo, tem uma disciplina que é Cidadania e Direitos Humanos. As crianças que tiveram contato com as escolas daqui, que problematizam a questão da violência e também valorizam a comunidade, tiveram sua autoestima fortalecida - avalia Suelen.
A fala da secretária da Comissão de Regularização Comunitária da Nova Santa Marta e ex-líder comunitária, Elisabete Pinheiro, dá uma ideia do espírito que norteia os moradores.
- Nossa comunidade é desafiadora. Nós estudamos, buscamos conhecimento, principalmente, a cerca das responsabilidades do poder público. Nos apropriamos desse conhecimento para poder cobrar com propriedade, com argumentos. Somos como o sal: viemos para dar gosto, tempero - afirma Elisabete.
2 mil pessoas são atendidas por projetos sociais
Em 1998, foi inaugurada a maior instituição de ensino do bairro. A Escola Marista Santa Marta atende, atualmente, cerca de 900 crianças, desde a Educação Infantil a 8ª série do Ensino Fundamental. Vinculada à escola está o Centro Social Marista Santa Marta, fundado em 2001, que dispõe de quatro projetos sociais em andamento: Centro Marista de Inclusão Digital (Cmid), Projeto Mãos Dadas, Melhor Idade e POD Socioeducativo.
Conforme o diretor do Marista Santa Marta, Augusto Russini, entre alunos e moradores da comunidade, cerca de 2 mil pessoas são atendidas pelos projetos sociais da escola.
- Nosso trabalho tem objetivo de desenvolver uma educação integral articulando corpo, mente, coração e espírito visando uma cultura da solidariedade e da paz. Apesar dos esforços de muitos, o Brasil, infelizmente, apresenta uma desigualdade social histórica, que entendo ser o estopim para a violência e a drogadição que hoje assola as cidades e os bairros brasileiros. Não consigo vislumbrar uma modificação deste cenário se não for pela educação - avalia Russini.
Educador tem esperança em dias melhores
Mesmo com o importante trabalho desempenhado pela escola em prol da comunidade, o diretor afirma que não é feito de forma isolada.
Russini ressalta o trabalho incansável dos voluntários e líderes comunitários do bairro considerados por ele como "exemplos de doação, carisma e competência técnica".
- A Nova Santa Marta é um bairro que sofre com dive"